quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Uma voz

Retomar algo é sempre uma tarefa difícil. Seja por não saber a medida exata para recomeçar ou pela incapacidade de reconhecer o ponto crucial onde os passos se perderam. E para encobrir essa imprecisão, acabamos planejando uma volta triunfal, peripécias que permitam ao presente preencher o passado e predizer um futuro louvável.

O problema é que de tanto planejar e planejar e planejar, a ação se esvai apenas em pensamento, numa falta de movimento que nos mantém firmes exatamente onde não desejamos estar: no mesmo lugar de tantos rabiscos atrás, onde a voz se perdeu. Sabe-se lá quantas vezes visitei mudamente este blog esperando (e confesso: de modo um tanto acomodado) que algum impulso me devolvesse o verbo.

Mas tudo parecia tão idealizado e distante, aquele momento ideal, que acabei deixando passar dias, estações... quase dois anos... até que hoje descobri-me essencialmente prático, destinado ao agir e não ao pensar. Aproveitei para despir-me da vaidade do espetáculo e da segurança do momento certeiro para simplesmente me dispor a recomeçar. E aqui estou de volta, pronto para seguir adiante, parar quantas vezes for preciso e recomeçar tantas outras.

Abraço a todos!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Eixo

Olho em volta e tudo que vejo são becos sem saída,
Portas e mais portas de lugar nenhum
Num qualquer labirinto de palavras recicladas,
Numa ironia sem sorrisos de olhares desvairados,
De uma embriaguez sem desordem na ordem dos fatos
E do desespero de ver que a vida se esvai
Entre as mãos do cansaço de seguir adiante
No delírio do afago de uma lua minguante.

Olho em volta e tudo que vejo é um presente sem futuro,
Um passado sem memória no circo da vida
Esquecido nos frágeis fios da lembrança
De uma criança envelhecida pelo pesar dos pesares,
De um velho embevecido pelos apelos da infância
E pelas cirandas apagadas das raízes da história.
De um tempo em que viver era uma fantasia
E não um sorriso amarelo ao final do dia.

Olho em volta e tudo que vejo são metáforas
De um universo enrustido nas teias da memória,
De uma significância sem significado
No subjetivo esforço de dar ordem aos fatos.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Brilho intenso

Ontem ela apareceu desinibidamente radiante. Fitava-me de cima para baixo com uma inquietante exuberância, tamanha que me sufocava. E continuou por longo tempo quase imóvel, completamente despida, de tal ângulo que escondia de sua face branca e brilhosa qualquer imperfeição. Parecia desejar veementemente jogar-se sobre mim. E eu, já inebriado de prazer, guardava apenas um sorriso entre lábios e duas lágrimas, uma em cada olhar, que segurava a muito custo.

Não adiantou. Aquela cena me furtava o fôlego e o rosto enrubescido denunciava meu constrangimento. Tentei mudar o rumo da visão, olhava de canto de olho, mas ela continuava lá, destemida, afrontando minha timidez. Eu realmente não sabia mais o que fazer, afinal, me envergonhava por não aparecer tão belo e radiante assim para ela. Sentia-me agredido violentamente, mas de um jeito tão deliciosamente cruel que me dava mais alegria que raiva...não, não tinha raiva, mas também não sabia dizer se estava feliz... por enxergar e não conseguir desfrutar plenamente aquele momento. Tantos pensamentos em mente e tantos por vir que deixava apenas a hora passar e tentava furtivamente desviar o olhar, com certo medo de me perder e não voltar nunca mais a mim mesmo.

E ela? Ora... Continuou lá enquanto pode me torturar, me fitando, ameaçando cair sobre os meus ombros... realmente me pegou pra “Cristo”. Ah...essa lua me maltrata!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Antes de adormecer


Abraçados como se nada mais existisse e aquele momento bastasse. Apenas o sentir da respiração no colar dos rostos. Ensaiaram um beijo, mas quando os olhares se encontraram a pergunta pulou da boca com aquela vontade que se tem de ouvir repetidas vezes o que já se sabe... afinal, nunca é demais:
- amor, você me ama muito?
- amo, muito.
- qual é o tamanho do muito?
E como num simples ato reflexo, livre de qualquer pretensão, a resposta soou rápida, impulsiva e quase infantil de tão cheia de verdade:
- muito é do tamanho do mundo.
Na seqüência, o silêncio de três segundos foi rompido por um abraçar entre risos. A simplicidade do diálogo retornou-os à infância...da voz suave ao falar errado no estilo Cebolinha (mais risos). E assim adormeceram como crianças, alimentando silenciosamente um sonho roubado de versos alheios: “...quando crescer vou casar com você”.

E eu, que bem de perto observava atentamente aquela cena, me emocionei ao compreender que amar é mais simples do que imaginava... e amei também, deixando-me amar. E adormeci... também como uma criança.

domingo, 10 de agosto de 2008

Feliz dia dos pais

..."Se eu pudesse ter outra chance

Outra caminhada, outra dança com ele

Eu tocaria uma canção que nunca, nunca iria acabar"...


Trecho traduzido da música Dance With My Father

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Bom dia

Hoje acordei com um sorriso na lembrança e o calor de um abraço no corpo. Tinha na boca um gosto de vontade e fui tomado por uma felicidade quase infantil, plena de verdade e misto de pureza e ingenuidade. Senti-me seguro pelo encontro na troca de olhares e pela certeza que era real... de uma realidade unicamente sincera. Tão única como o toque preciso de mãos espalmadas nas costas e o roçar na face em busca de um cheiro, um beijo ou mesmo de uma fé nas coisas eternas. Enfim, acordei com um desejo de infinito e uma deliciosa sensação de sempre. Daquelas que só se sente amando... daquelas que se ama sem sentido ao se entregar.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Mais um presentinho de Vinícius

Soneto de Fidelidade - Vinícius de Moraes