sexta-feira, 27 de junho de 2008

Sonho

A realidade travestiu-se de sonho e eu, que já vivia mais fora que dentro de mim mesmo, alcei vôo de uma vez por todas. Nunca me senti tão livre, verdadeiramente livre. Despi-me do próprio corpo e saí sem hora no rumo das cantigas da infância, como quem busca despretensiosamente qualquer descoberta que a vida possa oferecer. Acordei com o primeiro raio de sol, peguei carona com a brisa da manhã, rolei na areia, pisei na grama molhada, corri pela ribanceira dos rios e, por fim, dei cambalhotas na água, espirrando para todo lado as gotas de minha felicidade. Fiz-me sentir de todas as sensações.

E quando o sol já se despedia, apeguei-me ao primeiro fio da lua e segui na direção das estrelas. Em algumas delas visitei a lembrança dos amigos de outrora e em outras o reflexo dos sorrisos de agora. Guardei na memória o brilho das que não existiam mais e chorei ao descobrir que algumas nunca existiram realmente. No fim da noite, já cansado de tanta vagueação, tomei a primeira nuvem para aninhar meu espírito. E repousei na minha inquietação, até que a saudade de (re)tornar-me novamente ser fez com que eu descesse furtivamente à terra com a neblina noturna e me escondesse na garoa, aguardando silenciosamente o primeiro sopro do dia para novamente brincar de viver e de ser feliz.

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